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Apiterapia e Ozonioterapia




APITERAPIA


Apiterapia, sendo “Api” do latim Apis mellifera, que significa abelha e “Terapia” do francês Thérapie, que significa método para tratar seres humanos ou animais contra enfermidades. Incluída na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS – PNPIC, por meio da Portaria nº 702, de 21 de março de 2018, a Apiterapia é uma prática terapêutica que consiste em usar produtos derivados de abelhas, tais como mel, própolis, geleia real, pólen e a apitoxina, para fins terapêuticos e promoção da saúde (BRASIL, 2018).

Os primeiros relatos de uso de produtos apícolas foram entre 2.100 e 2.000 a.C., no vale do Eufrates, onde utilizou-se o mel em uma placa de argila. Há também registros de Hipócrates, considerado pai da medicina, no qual listou os efeitos medicinais do mel, tais como: induzir calor, limpar e curar feridas e úlceras labiais. Na mesma proposta, o médico austríaco Philip Terc, do século XIX, foi considerado o pai da apitoxina após relatar melhora das dores reumáticas em decorrência de um ataque por abelhas que sofreu, fazendo com que publicasse o primeiro estudo científico sobre a temática, intitulado “Relatório sobre uma conexão peculiar entre as picadas de abelha e o reumatismo” (BRADBEAR, 2019).

A seguir serão descritos os produtos apiterápicos, bem como suas ações e finalidades para promoção e manutenção da saúde:


O mel é a substância produzida pelas abelhas por meio do néctar coletado das flores, sendo o saber e a cor variados conforme o tipo de flor e a área geográfica. Além de ser um produto nutricional, é também um produto com inúmeros benefícios na saúde, por possuir bicomponentes como polifenóis, flavonoides e vitaminas C e B, além de baixo pH (ZAMRI, 2023). Conforme os estudos de Mathuru et al. (2022), Rashid et al. (2022), Fratianni et al. (2023) e El-Haskoury et al. (2019), através desses compostos o mel possui algumas propriedades, como:

  • Antibacteriana, devido ao efeito inibitório sobre o crescimento bacteriano contra Escherichia coli e Staphylococcus epidermidis, entre outras bactérias;

  • Anti-inflamatório, principalmente pela redução de fatores pró-inflamatórios;

  • Antioxidantes, em decorrência do alto teor de flavonóides e ácidos fenólicos que eliminam os radicais livres. O estresse oxidativo, causado pelo acúmulo de radicais livres, pode ocasionar a morte neuronal, portanto o mel pode atuar como neuroproteror, prevenindo doenças neurodegenerativas, como Doença de Alzheimer e Doença de Parkinson;

  • Hipoglicêmico, apesar da presença de sacarose no mel, na qual eleva o nível glicêmico no sangue, há também componentes como extrato aquoso e do extrato de acetato de etila que diminuem em maior proporção nível glicêmico no sangue, sendo um aliado no tratamento e prevenção de Diabetes Mellitus.


O própolis é um composto resinoso recolhido pelas abelhas a partir da casca e brotos de plantas, ao qual sofre uma modificação em decorrência das enzimas salivares e cera das abelhas. Assim como o mel, a composição do própolis varia de acordo com a área geográfica, época de coleta, sazonalidade, iluminação, altitude e plantas em que as abelhas foram coletá- lo (ORYAN; ALEMZADEH; MOSHIRI, 2018). De acordo com estudos de Tiveron et al. (2016), Frozza et al. (2017) e Oryan, Alemzadeh e Moshiri (2018), o própolis apresenta alguns efeitos biológicos, a saber:

  • Anticancerígeno, por possuir efeitos apoptóticos em células cancerígenas;

  • Anti-inflamatório, em função da presença de compostos que inibem vias do processo inflamatório;

  • Antimicrobiano, por inibir a formação de biofilmes e combater algumas bactérias, como Staphylococcus aureus e Moraxella catarrhalise, entre outros estreptococos, sendo muito utilizado na saúde bucal, principalmente após implantes e no pós-operatório de cirurgias orais, mantendo o equilíbrio do microbioma bucal e eliminação de microrganismos causadores de doenças na gengiva e tecido dentário;

  • Antioxidante, devido aos flavonoides, fenólicos e artepilina C, que possuem atividades antioxidantes por eliminarem diretamente os radicais livres;

  • Cicatrização de feridas, devido à síntese e liberação de glicosaminoglicanos, necessária para a formação de tecido de granulação no leito da ferida, crescimento tecidual e fechamento da ferida.


A geleia real é uma secreção viscosa, esbranquiçada a amarela e de caráter ácido produzida pelas glândulas hipofaríngeas e mandibulares das abelhas, sendo um nutriente essencial para o desenvolvimento das abelhas rainhas (PASUPULETI et al., 2017). Além de ser composta por água, proteína, glicose, lipídios, vitaminas, sais e aminoácidos livres, da mesma forma que o mel e o própolis, a geleia real contém uma variedade de moléculas bioativas e inúmeras propriedades, segundo os estudos de Pavel et al. (2011), Pasupuleti et al. (2017), Teixeira et al. (2017) e Abd El-Hakam et al. (2022), tais como:

  • Antibacterianas, a presença de componentes hidrossolúveis, como proteínas e peptídeos, apresentam alta capacidade de inibição Bactérias Gram positivas e fungos;

  • Antioxidantes, devido a sua capacidade de eliminar os radicais livres, além de diminuir os níveis de corticosterona, desencadeada pelo estresse e que pode levar a lesão oxidativa nos tecidos cerebrais;

  • Anti-inflamatórias, inibem a produção de citocinas pró-inflamatórias;

  • Anticancerígenas, devido à substância 10-hidroxi-2-decenóico presente na geleia real, a qual possui ação inibitória sobre o Fator de Crescimento Endotelial Vascular induzido angiogênese, o que consequentemente também inibe a vascularização tumoral;

  • Anti-hipertensivas, por apresentar compostos que inibem a enzima de conversora da angiotensina.


O pólen é rico em metabólitos naturais ativos, sendo a principal fonte de nutrientes das abelhas, como minerais, proteínas, carboidratos, vitaminas (A, C e E) e lipídios, incluindo ácidos graxos, ômega-3 e ômega- 6. Além de seus valores nutricionais, o pólen de abelha apresenta ação antioxidante devido à presença de uma fonte inesgotável de poderosos compostos antioxidantes como resveratrol, quercetina, kaempferol, ácidos cinâmico e cafeico (LAAROUSSI, 2023). Para mais, possui altas atividade anti-hiperglicêmica devido a ação de inibir enzimas que retardam a absorção de glicose e, assim, diminuir o nível de glicose no sangue pós- prandial (LAAROUSSI, 2023).

Vale ressaltar que efeitos antibacterianos e anti-inflamatórios de pólen, geleia real, mel e própolis não ocorrem por meio da ingestão, uma vez que as substâncias ativas envolvidas nesses mecanismos podem ser destruídas no processo digestivo ou pela mudança de pH (PAVEL et al., 2011).


A apitoxina é veneno de abelha que é secretado pelas abelhas operárias, que, apesar de sua toxicidade, tem sido utilizado para fins terapêuticos, sendo por meio de picadas de abelha viva, acupuntura de veneno de abelha (BVA) ou injeções e pomadas de veneno de abelha aplicadas externamente. Vale ressaltar que as picadas de abelha viva são aplicadas diretamente na pele humana, podendo apresentar um alto risco de reações adversas, enquanto o BVA é aplicado injetando veneno de abelha diluído em uma proporção inferior a 1:10.000 para minimizar os efeitos colaterais e, ao mesmo tempo, fornecer efeitos terapêuticos (JANG; KIM, 2020).

Apresenta ações anti-inflamatórias e analgésicas devido à inibição de COX-2 e prostaglandina no corpo, além de reduzir significativamente o nível de proteína C-reativa e a intensidade da dor. Portanto, a terapia com veneno de abelha é usada para várias doenças, principalmente musculoesqueléticas, como artrite, artralgia e doenças relacionadas ao sistema imunológico (JANG; KIM, 2020).


OXONIOTERAPIA


O gás ozônio foi descoberto em 1840, pelo alemão Dr. Christian Friedrich Schoenbein enquanto submetia oxigênio a uma descarga elétrica. O ozônio age como um filtro de energia ultravioleta (UV), e, desde a 1ª Guerra mundial (1914-1918) tem sido utilizado para finalidades terapêuticas, como eliminar a ação de bactérias e germes na pele humana (OLIVEIRA; MENDES, 2009).

Incluída na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS – PNPIC, por meio da Portaria nº 702, de 21 de março de 2018, a ozonioterapia é definida pela aplicação médica do ozônio, mediante inalação, banho ou injeção devido ao seu alto poder oxidante com finalidade terapêutica (BRASIL, 2018).

Por meio da sua forte capacidade de induzir o estresse oxidativo controlado e moderado quando administrado em doses terapêuticas precisas, a ozonioterapia contribui para a melhora de diversas doenças, uma vez que as moléculas de ozônio e oxigênio podem ajudar a recuperar de forma natural a capacidade funcional do organismo humano e animal (SERRA et al., 2023).

A seguir serão descritos alguns efeitos da ozonioterapia:

  • Anticancerígeno: por meio da aplicação de ozônio via intratumoral, poderá ter efeitos relacionados à regressão do tumor, diminuição das metástases e da proliferação de células cancerígenas e danos às células cancerígenas. Esse efeito ocorre por meio da capacidade do ozônio em reduzir o crescimento celular e induzir apoptose nas células cancerígenas (BAEZA-NOCI; PINTO-BONILLA, 2021).

  • Cicatrização de feridas: a ozonioterapia atua na melhora da vascularização, da isquemia e reperfusão, alívio de prurido, redução de infecção cutânea/subcutânea e de aderências cicatriciais, menor tempo de cicatrização e de internação, redução do sangramento, de eritema, do número de internações, do risco de amputação de membros, do tamanho da ferida (ITZPATRICK; HOLLAND; VANDERLELIE, 2018).

  • Anti-inflamatório: o gás ozônio-oxigênio no sangue diminui os biomarcadores inflamatórios (ITZPATRICK; HOLLAND; VANDERLELIE, 2018).

  • Alívio da dor: a injeção percutânea de oxigênio-ozônio é um procedimento minimamente invasivo, econômico, repetível e altamente disponível para o tratamento da dor, como a lombar relacionada à hérnia de disco lombar (RIMEIKA et al., 2021).

De forma geral, há inúmeras contribuições do tratamento com ozônio no controle da dor, infecções, inflamação e cicatrização de feridas, bem como no aumento da qualidade de vida. Vale ressaltar que não há evidências científicas sobre os efeitos adversos graves da administração de ozônio. Sendo assim, a ozonioterapia é um tratamento integrativo, de baixo custo, eficaz e seguro (SERRA et al., 2023).


Referências


ABD EL-HAKAM, F. E.; ABO LABAN, G.; BADR EL-DIN, S.; ABD EL-HAMID, H.; FAROUK, M. H. Apitherapy combination improvement of blood pressure, cardiovascular protection, and antioxidant and anti-inflammatory responses in dexamethasone model hypertensive rats. Scientific reports, v. 12 n. 1, p. 20765, dez. 2022. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36456799/. Acesso em: 06 fev. 2023.

ABD RASHID, N.; MOHAMMED, S. N. F.; SYED ABD HALIM, S. A.; GHAFAR, N. A.; ABDUL JALIL, N. A. Therapeutic Potential of Honey and Propolis on Ocular Disease. Pharmaceuticals (Basel, Switzerland), v. 15, n. 11, p. 1419, nov. 2022. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36422549/. Acesso em: 06 fev. 2022.

BAEZA-NOCI, J.; PINTO-BONILLA, R. Systemic Review: Ozone: A Potential New Chemotherapy. International journal of molecular sciences, v. 22, n. 21, p. 11796, nov. 2021. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8584016/. Acesso em: 27 fev. 2023.

BRADBEAR, N. Apiterapia: o poder terapêutico das abelhas. Revista Medicina Integrativa, jul. 2019. Disponível em: https://revistamedicinaintegrativa.com/apiterapia-o-poder- terapeutico-das-abelhas/. Acesso em: 06 fev. 2023. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria N° 702, de 21 de março de 2018. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2018/prt0702_22_03_2018.html. Acesso em: 23 fev. 2023.

EL-HASKOURY, R.; AL-WAILI, N.; EL-HILALY, J.; AL-WAILI, W.; LYOUSSI, B. Antioxidant, hypoglycemic, and hepatoprotective effect of aqueous and ethyl acetate extract of carob honey in streptozotocin-induced diabetic rats. Veterinary world, v. 12, n. 12, p. 1916–1923, dez. 2019. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6989319/. Acesso em: 06 fev. 2023.

FITZPATRICK, E.; HOLLAND, O. J.; VANDERLELIE, J. J. Ozone therapy for the treatment of chronic wounds: A systematic review. International wound journal, v. 15, n. 4, p. 633–644, ago. 2018. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7949634/. Acesso em: 27 fev. 2023.

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