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Constelação Familiar, Arteterapia e Shantala



CONSTELAÇÃO FAMILIAR


Origem da prática

A constelação familiar é um método terapêutico, desenvolvida no ano de 1980, com uma abordagem da Psicoterapia Sistêmica Fenomenológica, criado pelo filósofo alemão Bert Hellinger, teólogo, missionário e terapeuta, tendo a influência de estudos da Psicanálise, a Gestalt, a Análise Transacional e a Terapia Familiar.

A partir de sua vivência em uma viagem para a África, notou que dentro das tribos havia uma comunidade que estava em harmonia constantemente e, com isso, conseguiu perceber que os indivíduos que faziam parte respeitavam ordens. A partir disso, passou a entender que há uma lei natural que rege os sistemas familiares, que são a hierarquia, pertencimento e equilíbrio, se rompermos uma das diretrizes, irá desmembrar em dificuldades e conflitos (SCHNEIDER, 2007).


Definição


A palavra “constelação” na língua portuguesa pode ter o significado de um grupo de estrelas próximas, de um grupo de pessoas brilhantes, ou, ainda, um conjunto de elementos que formam um todo coerente, ligados por algo em comum” (Houaiss, 2009). Além disso, Bert Hellinger deu-se o nome dessa abordagem de familienstellen, que significa colocar em família, porém foi traduzida tempo depois para constelação familiar, sendo uma técnica para resolver conflitos entre as famílias e entre si, sendo um método empírico baseado na vivência e observação (MARINO, 2018).


Constelação Familiar


Tudo na vida é regida por sistemas, a exemplo do sistema respiratório, digestivo e nervoso, onde cada órgão assume sua devida função no organismo. No caso da família, cada indivíduo tem a sua devida função. Se um indivíduo componente daquela linhagem sai do lugar de costume, o local fica vago, e com isso, permanece registrada as energias e influenciando o meio, porém como ficou vazio o campo, outro membro vai assumir o local e passa ter os mesmos pensamentos e atitudes da pessoa anterior para suprir aquela falta e poderá gerar sobrecarga, pois assume ações que não é dela. Esse fator anterior é uma das leis naturais, também caracterizada como “ordens do amor”, conhecida como pertencimento. Além disso, há outras duas leis, como a de hierarquia, estabelecida pela ordem de chegada, e o equilíbrio, estabelecido pelo tomar/receber (CARVALHO, 2012).

A hierarquia é denominada através do seguinte fator: Quem veio antes precede o local de quem veio depois. Há momentos em que vai ocorrer o rompimento desse princípio que leva a desarmonia, ocasionando conflitos. (CARVALHO, 2012) A terceira ordem, do equilíbrio, é do dar e receber na mesma intensidade, sendo imprescindível que um faz pelo outro, sendo um relacionamento mútuo, pois se há o rompimento nesse caso, pode desencadear confrontos. Por essa razão, é fundamental que a relação esteja equilibrada e siga em diante, permitindo a olhar para o próximo, tendo uma melhor compreensão (CARVALHO, 2012).


Fundamentação da prática


A fundamentação dessa prática é baseada em estudos de abordagem sistêmica, que seja inclusiva e integral, propondo um olhar revolucionário para o processo de enfermidade, no qual reconhece dinâmicas familiares e a relação com o desenvolvimento de doenças e sintomas, sendo que não há somente um desequilíbrio fisiológico e sim, abrange lealdade à padrões e crenças familiares, vínculos ocultos, e exclusão simbólica/afetiva de ancestrais ou situações da história familiar passada (MARINO, 2018).


Finalidades na saúde


Em 21 de março de 2018, por meio da portaria 702, o Ministério da Saúde incluiu a técnica no SUS como parte da política nacional de práticas integrativas e complementares. (PAIVA,2018) Um dos campos que mais se utiliza a constelação familiar no campo da saúde é a psiquiatria, por exemplo, através da busca no inconsciente, método utilizado na psicanálise. Essa metodologia é caracterizada pelos impulsos e desejos que não devem ser reprimidos, pois irão para o subliminar e pode desencadear sintomas psicológicos. É notável que em doenças graves, como o câncer, o paciente perpetua a relação de pertencimento com o adoecimento, sendo um caminho difícil para desvincular o mesmo do acontecimento que vivenciou por um período de tempo, não almejando a cura (SACCOL, 2018).

Dessa maneira, é importante que traga o consciente para que haja a resolução dos conflitos internos, com uma terapia breve, de forma precisa e rápida. Além disso, com a constelação familiar é possível compreender o processo da enfermidade de forma não negativa, já que é preciso ter o conhecimento que os fatores emocionais interferem e prejudicam a relação de harmonia que tem dentro do organismo.

Nesse sentido, é necessário que os profissionais tenham capacidade para aplicar essa técnica complementar ao processo saúde-doença, e primeiramente, devem se aprofundar e habilitar dessa PICs, para ser uma forma possível para resolver as desavenças e manter os indivíduos em conciliação, com uma vida mais saudável e íntegra, pois a constelação acredita na competência do enfermo para lidar com a doença e seu fim (SACCOL, 2018).


ARTETERAPIA


A arteterapia teve origem no século XX, quando psicólogos e médicos começaram a compreender a arte como uma forma de comunicar e expressar os sentimentos do inconsciente do indivíduo. Entretanto, foi apenas em 1940 que a arteterapia passou a receber maior visibilidade e aceitação, sendo considerada uma disciplina formal. As principais responsáveis pela disseminação da prática foram Margaret Naumburg e Edith Kramer, sendo consideradas as pioneiras da arteterapia.

Naumburg fundou a Escola de Psicoterapia através da Arte em 1914, enquanto Kramer desenvolveu uma abordagem terapêutica que utilizava a arte como expressão das emoções vivenciadas pelo indivíduo. Desde então, a arteterapia passou a ser utilizada como uma das formas de terapia complementar em saúde mental (Andrade, 2000). No Brasil, a arteterapia surgiu no início do século XX, representada por Osório César e Nise da Silveira, ambos médicos psiquiatras.

Eles se opuseram ao modelo hospitalocêntrico diante dos transtornos mentais da época, promovendo a expressão de seus pacientes através da arte, de forma humanizada, e contribuindo para a recuperação do indivíduo (Silveira, 2001). A arteterapia é definida como uma disciplina que utiliza a arte no processo terapêutico. Para sua realização, são empregadas diferentes técnicas, como desenhos, músicas, expressão corporal, tecelagem, entre outras.

A arteterapia pode ser realizada tanto de forma individual quanto coletiva. Seu objetivo é ampliar a percepção do indivíduo sobre si e sobre o mundo, permitindo que o inconsciente seja expresso através da arte, possibilitando ao indivíduo externalizar seus sentimentos, pensamentos e experiências, e promovendo o seu autoconhecimento (AATA, 2021).

A prática da arteterapia se baseia em teorias e abordagens psicológicas que acreditam que a arte seja uma forma de comunicação e exploração das emoções. Dentre os principais fundamentos, podem-se destacar: psicodinâmica, que acredita que a arte seja uma forma de acessar o inconsciente e trazer à tona conteúdos difíceis de serem expressados verbalmente pelo indivíduo; humanismo, onde o ambiente terapêutico deve ser receptivo e sem julgamentos, visando incentivar o paciente a explorar sua criatividade para a prática; gestalt-terapia, onde a arte expressa as emoções do momento presente do indivíduo; teoria do desenvolvimento, pois a prática é muito utilizada com crianças e adolescentes, visando promover seu desenvolvimento emocional, cognitivo e social; e integração mente-corpo, pois possibilita a interconexão entre corpo e mente, trazendo a expressão de sensações físicas e emocionais (AATA, 2021).

Sendo assim, conclui-se que a arteterapia pode ser utilizada em inúmeros contextos da saúde mental, tendo como principal finalidade a expressão das emoções. Isso permite que o indivíduo traga do inconsciente formas de enfrentamento e resolução dos problemas enfrentados, além de auxiliar na promoção do crescimento pessoal. Pode ser aplicada em contextos como resolução de traumas, gerenciamento de ansiedade e depressão, processos de reabilitação e distúrbios emocionais (AATA, 2021).


SHANTALA


Shantala foi uma prática descoberta em 1970, pelo Dr. Frédrich Leboyer, obstetra francês, e pioneiro na humanização no que tange os aspectos da gestação. Em uma de suas viagens à Philkana - Índia, chegou a uma comunidade de refugiados. Lá vivia Shantala, uma mãe de dois filhos pequenos. (Pereira, 1996). Leboyer, analisando esta mãe sentada ao chão, com seu caçula deitado sobre suas pernas, realizava uma série de massagens com destreza e um certo padrão, que eram rotineiros naquela região. A maneira delicada e afetuosa como tocava seu bebe chamou a atenção do médico, evidenciando todo seu amor em forma de toque e movimentos. Vale ressaltar que se tratava de uma população com poucos recursos e comida escassa, no entanto as crianças transpareciam saúde, deixando a entender que essa prática os fortaleciam. (Moreira et al., 2011).

Assim, constatou a importância que a prática teria para o resto do mundo. Demonstrando interesse em aprender todos os processos. Conseguiu que compartilhassem o conhecimento com ele, e com o auxílio de relatórios e fotos, Leboyer escreveu um livro, no qual nomeou de Shantala (Leboyer, 1996). A prática auxilia na adaptação intra útero e meio externo, isso porque durante a gestação, o bebe está acolhido e cercado constantemente pelo corpo da mãe, constituindo de certa forma um único elemento. Com o intuito de evitar essa ruptura brutal, a shantala trabalha a manutenção do vínculo e proximidade entre mãe e filho (Klaus e Kennel, 1993). Os movimentos que são realizados com a técnica Shantala geram não só informações nos músculos, tendões e articulações, mas também proporcionam uma maior amplitude e precisão dos movimentos e agilidade, garantindo um melhor desenvolvimento do bebe.

Lebovici (1987), relata “O bebê começa a aprender sobre si mesmo e sobre o mundo ainda dentro do útero e, após o nascimento, a primeira tarefa dos pais é descobrir as sensibilidades particulares de seu filho para aprender a acalmá-lo, de modo que o bebê possa descobrir seus próprios sistemas de controle. Com o auxílio dos pais, ele aprende como passar de um estado a outro, dando o tempo certo para assimilar informações, mantendo o equilíbrio, desligando-se dos estímulos perturbadores e concentrando-se em estímulos atrativos, focalizando a atenção em mensagens importantes vindo do ambiente ao seu redor, o que é primordial para o seu desenvolvimento.”

Para o sucesso da prática, é de suma importância que alguns pontos sejam adotados: Nunca realizar a massagem após alimentação, ou em estado de fome (se atentar para as quantidades exorbitantes ou escassas), isto faz com que o bebe se estresse; Com os sinais vitais fora dos valores de referência, a prática deve ser evitada, pois a técnica promove uma maior perfusão; Deve-se atentar para sinais de diarreia, pois ela pode se agravar após a prática. (Leboyer, 1996). A técnica é realizada da seguinte forma: O bebe é colocado sobre as pernas da mãe totalmente nu. Para a garantia do conforto do bebe utiliza-se óleos vegetais como: amêndoas e camomila, sempre aquecido por meio da fricção das mãos da mãe antes de entrar em contato com o bebe, fazendo reposição do óleo à medida que a resistência for surgindo.

Realizando os movimentos de forma coordenada, firme e carinhosa do centro para as extremidades. Estabelecendo contato visual e estímulos sonoros como músicas e conversas. Sendo dividida em três fases, e encerrando com um banho em água morna:

  • Fase 1: Em posição de supino a mãe realiza a massagem no tórax, membros superiores, abdome e membros inferiores.

  • Fase 2: Com o bebe em posição prona realiza-se a técnica na região posterior, crânio caudal, novamente em supino, a mãe irá realizar uma delicada massagem na face do bebe.

  • Fase 3: exercícios finais - a mãe irá movimentar os membros superiores e inferiores separadamente e após simultaneamente. O laço gerado por mãe e filho é uma importante ferramenta para o desenvolvimento de sua identidade, vínculo afetivo, entendimento de si e percepção. O estabelecimento desse apego é muito importante para a construção de confiança e afeição.

O ser humano é caracterizado como um ser social, necessita de uma maior entrega nas relações e são elas que irão garantir o melhor desempenho nesse domínio. Os bebês já nascem com diversos sistemas que devem ser desenvolvidos através de estímulos, quanto maior a produção, melhor o aprimoramento e entendimento de suas habilidades. Com base em um estudo de caso foram apontados importantes benefícios diretos para os bebês, são eles: “Proporcionar benefícios fisiológicos aos bebês e, consequentemente, torná-los mais calmos.

Percebe-se que a Terapia Ocupacional, utilizando-se da técnica - Shantala como recurso terapêutico, vem contribuir para a melhora da qualidade de vida dos bebês e suas mães, minimizando os bloqueios, ansiedades e medos gerados por diversos fatores como situações passadas mal resolvidas, problemas ocorridos durante a gestação, o tipo de parto, a situação familiar e socioeconômica. Tendo em vista que o toque é primordial para qualquer relacionamento fica clara a sua relevância, devendo ser estimulado já no princípio da vida humana, pois esse encontro afetivo desperta e estimula o interesse pela comunicação, nutre a saúde física e mental formando indivíduos mais saudáveis, solidários, receptivos e de fácil relacionamento.” Cunha, S. A. (2016). Nesse sentido, a Shantala (MS) se mostra um importante instrumento para o desenvolvimento e estímulo da resiliência do neonato.

A prática evidencia diversos benefícios como minimização da dor, promoção da perfusão sanguínea, diminuição dos sintomas depressivos e melhora do sistema imunológico, bem como trabalha o desenvolvimento de prematuros, visto que amplia o vínculo entre tutor e bebe. A técnica ganhou maiores adeptos nos últimos anos, por se tratar de um método eficiente e não invasivo que estimula a interação pós parto entre os elementos anteriormente unidos (Souza, 2017).

Segundo Victor; Moreira (2004) O toque realizado na Shantala estimula benefícios em cadeia responsáveis pela imunidade celular, promovendo maior ativação de linfócitos T, células da imunidade adaptativa humoral. A diminuição dos níveis das catecolaminas, ativa o mecanismo de endorfinas, que resultam em aumento da liberação de neurotransmissores que correspondem a sensação de alegria. À vista disso, a Shantala se concretiza como um método auxiliar no período pós parto, sendo uma prática de realização independente, que promove sensação de bem estar e ampliação na interação mãe-filho.


Referências

PEREIRA, Fernando de Oliveira. Da comunicação pré-natal à massagem para bebês. [s.l.]:

Enelivros, 1996.

MOREIRA, N. R. T. L. et al. A Percepção da Mãe após Aprendizado e Prática do Método de

Massagem Shantala No Bebê. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, João Pessoa –

Paraíba, v.15, n.1, p.25-30, 2011.

LEBOYER, Frédérick. Shantala - massagem para bebês, uma arte milenar. 7. ed. São Paulo: Ground, 1998.

KLAUS, Marshall H.; KENNELL, John H. Pais e bebês - a formação do apego. Porto Alegre:

Artes Médicas, 1993.

LEBOVICI, Serge. O bebê, a mãe e o psicanalista. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.

Cunha, S. A., Rubinsztjn, K. C., & Rocha, L. B. (2016). Shantala em terapia ocupacional.

SOUZA, Larissa de. Benefícios da massagem Shantala no desenvolvimento motor grosso de lactentes. 2017. TCC (Graduação em Fisioterapia) — Universidade Federal de Santa

Catarina, Araranguá, 2017.

VICTOR, J. F.; MOREIRA T. M. M. Integrando a família no cuidado de seus bebês:

ensinando a aplicação da massagem Shantala. Acta Scientiarum. Health Sciences, Fortaleza - CE, v.26.

CARVALHO, Elza Vicente. Constelações familiares sistêmicas. Revista Brasileira de

Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, v. 1, n. 1, 2012.

MARINO, Sueli; MACEDO, Rosa Maria S. A Constelação Familiar é sistêmica?.

Nova perspectiva sistêmica, v. 27, n. 62, p. 24-33, 2018.

PAIVA, Christovão et al. Práticas integrativas no SUS: Constelação Familiar. 2018.

SACCOL, Marilda. Saúde e doença: o novo despertar a partir das constelações

familiares. Pesquisa em Psicologia-anais eletrônicos, p. 209-218, 2018.

SCHNEIDER, Jakob Robert. A prática das constelações familiares. Patos de Minas:

Atman, 2007.

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