BIOENERGÉTICA
A análise bioenergética despontou da psicanálise, oferecendo uma perspectiva radicalmente diferente. A psicanálise, liderada por Freud, elaborou uma complexa abordagem teórica sobre o funcionamento da mente. Entretanto, Wilhelm Reich foi além da descrição da mente, introduzindo importantes formulações sobre aspectos específicos do funcionamento somático no campo terapêutico (ALMEIDA, 2013).
Assim, Reich incorporou à terapia a ideia de funcionamento unificado da pessoa, ou seja, da mente e do corpo como uma unidade que abrange os domínios da experiência e do comportamento. Posteriormente, Alexander Lowen aprofundou a descrição da pessoa como um self corporal (body-self), expandindo a descrição da unidade mente-corpo e incluindo nesta totalidade, sua forma e mobilidade.
Segundo Helfaer (2015), Lowen entendeu como tarefa terapêutica central “enxergar a pessoa”, e isto significa, literalmente, olhar para ela, olhar para o seu corpo. A bioenergética foi criada a partir de 1953, fruto inicial do trabalho dos médicos Alexander Lowen e John Pierrakos – que mais tarde se retirou do campo e passou a se dedicar a outra escola psicoterapêutica.
A bioenergética postula que as experiências vivenciadas ao longo da trajetória do desenvolvimento humano, ficam registradas no corpo e as escolhas dos indivíduos, sejam elas afetivas, sexuais, cognitivas, ideológicas etc., são marcadas por esta história. Segundo Lowen (1985), a intensidade com que nós sentimos no direito de sermos pessoas, se reflete na qualidade de nossa respiração. Isto se deve ao fato da respiração ser a principal fonte de energia do organismo após o rompimento do cordão umbilical, desde o nascimento.
Para tanto, o oxigênio (proveniente da respiração) é fundamental para a manutenção da vida e incide diretamente sobre o funcionamento da consciência, sendo indispensável para o metabolismo energético na produção de energia celular. 13 A bioenergética, fundamentalmente, é uma teoria da prática clínica, com inovações na compreensão da personalidade do sujeito em termos corporais e energéticos, sem abrir mão de um entendimento analítico psicodinâmico (LOWEN, 1985).
Atento à linguagem do corpo, Lowen elaborou uma tipologia complexa de caráter, envolvendo aspectos corporais, disposições, existências e atitudes comportamentais que orientam a compreensão do psicoterapeuta na condução clínica diante de processos de sofrimento. Adicionalmente à abordagem exclusivamente psicoterapêutica, Lowen propôs uma diversidade de exercícios com recomendações específicas e que servem de recursos para promover a saúde e tratar diversas questões ligadas às tipologias de caráter, às tensões corporais crônicas e as limitações expressivas e emocionais (PESSINI, 2014).
A bioenergética procura cuidar do sofrimento em sua manifestação corporal e mental, e conduzir os sujeitos à conexão com sua vitalidade, graciosidade e criatividade. Nessa perspectiva, ao buscar compreender a personalidade humana no âmbito das situações sociais em que se insere, a bioenergética considera o indivíduo em sua singularidade, enquanto sujeito em relação, co-criador de sua própria existência, inserido num contexto sócio-político-econômico-cultural (ALVES; CORREIA, 2015).
Ainda que apresente sinais e sintomas indicativos de limitações e vulnerabilidades, observáveis em seus padrões de comportamento e nas estratégias de defesa emocional, sejam de ordem neurótica ou psicótica. Para tanto, investiga a raiz do sofrimento, dos distúrbios ou transtornos (pessoais, familiares e grupais), através da identificação das queixas psíquicas e/ou corporais.
MEDITAÇÃO
A meditação é definida como uma prática/terapia em que se engloba um conjunto de técnicas que possuem o objetivo de treinar e focalizar a atenção (SHAPIRO, 1981). Devido a isso, pode ser denominada como um processo de auto-regulação da atenção, em que, por meio da prática, desenvolve-se o controle dos processos atencionais (DAVIDSON; GOLEMAN, 1977).
Além disso, a meditação pode ser definida como uma terapia que pode alcançar objetivos semelhantes a algumas técnicas da psicoterapia cognitiva, embora por meios distintos. Ambas levam à diminuição do pensamento repetitivo e à reorientação cognitiva, desenvolvendo habilidades para lidar com os pensamentos automáticos. A diferença é que na prática da meditação, os conteúdos que emergem à consciência não devem ser confrontados ou elaborados intencionalmente, apenas observados, de forma que a prática se transforme em um aprendizado de como não deixar influenciar-se pelos mesmos e compreendê-los como fluxos mentais.
Esta terapia é antiga, e tem como origem as tradições orientais, estando especialmente relacionada às filosofias do yoga e do budismo (LEVINE, 2000). No entanto, esse termo também é utilizado para designar algumas práticas cultivadas por certas religiões, como o cristianismo, o judaísmo, o islamismo, o taoísmo e o xamanismo, entre outras, através do deslocamento da consciência do mundo externo para o interno (NARANJO, 2005). Com relação às investigações científicas, embora conste que desde 1936 o potencial da meditação vem sendo discutido (SMITH, 1975), apenas por volta da década de 60 a meditação começou a ser objeto de estudos mais rigorosos. Além disso, enquanto no Oriente meditar é sinônimo de busca espiritual, no Ocidente, em especial as pesquisas científicas, a palavra meditação tem sido utilizada para descrever práticas auto-regulatórias do corpo e da mente. A investigação científica da meditação parte da premissa que, embora existam diversas técnicas, todas têm uma característica fundamental comum: o controle da atenção (CAHN; POLICH, 2006; GOLEMAN, 1988).
Apesar de muitas vezes ser praticada em aulas e locais próprios, com um instrutor, a meditação também pode ser feita em outros ambientes como em casa ou no trabalho. Para aprender a meditar sozinho, é necessário praticar diariamente as técnicas por 5 a 20 minutos, 1 ou 2 vezes ao dia. Com a prática diária da meditação, é possível perceber um melhor controle dos pensamento e manutenção do foco nas atividades, além de trazer outros benefícios, como:
Auxílio no tratamento da depressão e diminuição das chances de recaída;
Controle do estresse e a ansiedade;
Diminuição da insônia;
Melhora do foco e do rendimento no trabalho e estudos;
Ajuda no controle da pressão alta;
Maior controle da glicemia no diabetes;
Ajuda no tratamento de distúrbios alimentares e obsessivo-compulsivos.
Assim sendo, esta terapia resulta em inúmeros benefícios para a saúde do indivíduo, influenciando de forma positiva em sua qualidade de vida e minimização de sinais e sintomas geradores de estresse.
REIKI
Trata-se de um recurso terapêutico em que utiliza-se a energia universal para o restabelecimento do equilíbrio, limpeza e fixação de energia. A aplicação do reiki pode ocorrer de modo presencial ou a distância, por pessoas iniciadas ou sintonizadas, podendo ser aplicados em animais, plantas, ar, lugares, nos nossos desejos e sonhos, além de poder ser aplicado nas diferentes faixas etárias e públicos (QUEST, 2012).
Assim sendo, o reiki consiste em uma terapia energética, em que se utiliza a imposição das mãos para a canalização da energia vital, visando o equilíbrio energético do nosso organismo, controlando sintomas patológicos, e promovendo o bem-estar (MAGALHÃES, 2015).
Em 2007, a Organização Mundial de Saúde (OMS) indicou o reiki como uma alternativa para manejo da dor em uma publicação sobre Orientações Normativas sobre o Tratamento da Dor (KUMAR, 2007). Para tanto, em 2017, o reiki foi implementado como as na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) (BRASIL, 2007). O reiki difere de outras intervenções, a exemplo, benzimento, passes espirituais, Johrei, dentre outras, sendo uma ferramenta em que foi comprovado cientificamente sua eficácia.
Segundo Kurebayashi et al (2020), o reiki atua como uma técnica efetiva para a redução da dor, havendo também estudos analisados que comprovaram a efetividade da terapia no alívio da dor crônica em idosos e melhoria da qualidade de vida, humor e redução de efeitos colaterais de quimioterapia. Em uma pesquisa realizada com a população idosa, observou-se que o reiki produziu efeitos psicofisiológicos e melhoria da qualidade de vida em indivíduos que apresentavam sintomas de estresse. Embora esta técnica seja utilizada para uma variedade de sintomas, tanto físicos quanto psicológicos, publicações que demonstram sua efetividade na prática assistencial de enfermagem ainda são poucas, e mais estudos utilizando-se a técnica do Reiki são necessários.
A aplicação do reiki permite a humanização do cuidado, uma vez obedecidos princípios de acolhimento, escuta, confiança, avaliação e possível encaminhamento adequado a outros profissionais de saúde quando necessário, visando a resolução da demanda apresentada pelos pacientes (DONOYAMA et al., 2013).
O custo-benefício da terapia reiki no SUS pode mostrar-se vantajoso. O baixo custo somado à grande abrangência populacional são atrativos que levam à escolha dessa prática. Pode-se optar por utilizar essa terapia em doenças epidêmicas, estas que normalmente dependem de grande quantidade de recursos públicos para tratamento e que com o emprego dessas terapias tendem a economizar recursos dos serviços públicos de saúde. A técnica tem caráter preventivo e age na causa dos problemas, demonstrando desfecho satisfatório ao ser utilizada em casos de ansiedade, depressão, insônia, medo, pânico, nas situações com sintomatologia dolorosa presente e em outras situações que possuem indicação para uso.
Referências
ALMEIDA, G. P. Considerações a respeito da noção de “Auto Regulação” no pensamento de Wilhelm Reich. Trabalho de conclusão de curso (Especialização Clínica). Instituto de Análise Bioenergética de São Paulo. São Paulo, 2013.
ALVES, J. P. ; CORREIA, G. W. B. Além das 4 paredes: bioenergética social. Recife: Editora Libertas, 1ª ed, 2015. 116p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria no 849, de 27 de março de 2017.Inclui a Arteterapia, Ayurveda, Biodança, Dança Circular, Meditação, Musicoterapia, Naturopatia, Osteopatia, Quiropraxia, Reflexoterapia, Reiki, Shantala, Terapia Comunitária Integrativa e Yoga à Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares. Brasília, DF. 2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria no 702, de 21 de março de 2018.Inclui a Aromaterapia, Apiterapia, Bioenergética, Constelação Familiar, Cromoterapia, Geoterapia, Hipnoterapia, Imposição de Mãos, Medicina Antroposófica/Antroposofia Aplicada à Saúde, Ozonioterapia, Terapia de Florais e Termalismo Social/Crenoterapia PNPICs. Brasília, DF. 2018.
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DAVIDSON, R. J., & Goleman, D. J. (1977). The role of attention in meditation and hypnosis: A psychobiological perspective on transformations of consciousness. The International Journal of Clinical and Experimental Hypnosis, 25(4), 291-308.
DONOYAMA N, et al. Effects of Anma massage therapy (Japanese massage) for gynecological cancer survivors: study protocol for a randomized controlled trial. Trials. 2013;14:233. DOI: 10.1186/1745-6215-14-233
Goleman, D. J. (1988). The meditative mind: The varieties of meditative experience. New York: G.P. Putnam’s Sons.
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LEVINE, M. (2000). The positive psychology of buddhism and yoga: Paths to a mature happiness. New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates.
LOWEN, A.; LOWEN, L. Exercícios de Bioenergética: o caminho para uma saúde vibrante. São Paulo: Summus Editorial, 1985.
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QUEST, P. Reiki para autocura: equilíbrio, harmonia, e plenitude e no corpo, mente e espírito. Portugal: Nascente, 2014. 288P.
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SHAPIRO, D. (1981). Meditation: Clinical and health-related applications. The Western Journal of Medicine, 134(2), 141-142.
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