Seguindo a programação do projeto ACOEXA, visando a promoção de saúde mental, o PET Enfermagem foi atrás de um profissional de saúde mental, o psicólogo, filósofo e professor Samuel Bueno, para fazer uma breve entrevista com algumas dúvidas comuns relacionados ao tema suicídio. A entrevista foi realizada através de gravação de áudio e em seguida as respostas foram transcritas abaixo:
1- Existem sinais que podem indicar o risco para suicídio? Quais são?
Sim, existem sinais que podem indicar o risco para o suicídio. Contemplando a dinâmica do suicídio primeiro temos a idealização suicida, depois uma verbalização suicida, que vem junto com a idealização, o planejamento suicida e a passagem ao ato, que é o que nós, profissionais de saúde, trabalhamos para que não aconteça. Os sinais são, por exemplo, o isolamento muito profundo, lembrando que não podemos trabalhar com a ideia de causa e efeito, mas quando a pessoa verbaliza e que está cansada de viver, que não vê mais sentido em existir, que tem vontade de sumir para um lugar e não voltar mais. Esses são os primeiros sinais de que pode estar acontecendo alguma ideação suicida na dinâmica do indivíduo.
2- Como ajudar, ao perceber esses sinais, e onde buscar ajuda?
Quando a família percebe esses sinais deve procurar ajuda profissional, de preferência da área de saúde mental, como o psicólogo ou psiquiatra, por exemplo. E atualmente existem muitos dispositivos na área de saúde pública. No SUS temos, por exemplo, o CAPS que é especializado nesse tipo de demanda. Mas o primeiro ponto de entrada que a família deve procurar é o serviço de atenção básica, o “postinho de saúde”, caso a cidade não tenha um serviço secundário de saúde mental.
3- Quem planeja o suicídio está determinado a morrer?
Essa pergunta é muito complexa e é difícil afirmar algo totalmente correto, ou alguma certeza sobre isso. O planejamento suicida pode derivar de algum fator psicótico, ou se não for esse o caso, o planejamento suicida vem muitas vezes do desejo de eliminar a dor e o sofrimento que a pessoa está vivendo naquele momento. Cessar a vida se transforma para aquela pessoa uma solução para a dor que ela está vivendo, e é isso que o profissional de saúde mental que vai trabalhar com ela.
4- Existem fatores de risco que podem levar uma pessoa ao suicídio?
Existem fatores hereditários, biológicos, históricos de transtornos mentais, histórico de depressão grave na família. O componente biológico é muito levado em consideração. Também tem os fatores de ordem psicodinâmicas, por exemplo, os traumas. Também, fatores de ordem externa, como por exemplo, mudanças muito abruptas na realidade, frustrações no dia-a-dia. Todos eles são fatores que são levados em consideração na análise particularizada do indivíduo. Aqui, colocamos algumas considerações generalizadas, mas as análises e os porquês são sempre individualizados. As mudanças de humor e comportamento são constantes na nossa vida. A questão é quando isso começa afetar a dinâmica de vida da pessoa. Quando fica mais acentuada e o sofrimento mais visível e a angústia fica insuportável, são elementos que são levados em consideração.
5- Como incentivar a pessoa a buscar ajuda?
Esta é uma questão que varia de acordo com a receptividade da pessoa. Muitas pessoas, às vezes, só estão esperando alguém estender a mão. Outras são mais resistentes, aí é um trabalho um pouco mais delicado. Mas sobretudo a intervenção é feita a nível familiar, todo o processo de tratamento no caso de ideação, planejamento ou a própria tentativa é levada a cabo familiar.
6- O que não fazer ao perceber sinais de risco?
Se você não consegue oferecer uma ajuda, o mínimo que você pode fazer é respeitar a dor do outro. Então o que não fazer é desvalorizar a dor do outro ou relativizar o que está acontecendo. Geralmente os sinais são muito sutis, então a principal ideia é não relativizar.
7- É comum casos de reincidência nas tentativas de suicídio?
Sim, elas são comuns, fazem parte da clínica de saúde mental e tem que ser avaliada ou enxergada caso a caso. Não existe um padrão do porque acontece as reincidências
8- Falar sobre suicídio ajuda ou “incentiva”?
Essa é uma questão que a ciência ainda não conseguiu quantificar e qualificar plenamente. Existem, hoje, na área de saúde mental, duas frentes: a frente que acredita que o modo que isso é abordado pode contribuir de forma negativa; e existe aquela frente que tenta trabalhar de modo comunicativo, no sentido pedagógico de ensino, de instrução. Isso varia muito, e sendo relativizador aqui, isso depende muito do modo como é abordado, do local e do público. A intervenção, muito mais do que as intenções, temos que avaliar os resultados dela. Então, se ela vem promover saúde, é bem vinda. Se ela vem pra promover problematização e inseguranças, então é melhor repensar.
O PET Enfermagem agradece a participação e esclarecimentos do psicólogo Samuel Bueno, e ressalta a importância de SEMPRE procurar ajuda profissional, na hora de ajudar e de pedir ajuda.
Comentários