Com o surgimento da Sars-CoV-2, milhares de pessoas ao redor do mundo foram orientadas a isolarem-se em suas casas, protegendo-se contra esse novo vírus de proporções pandêmicas. No entanto, os profissionais da área da saúde foram incitados a fazer exatamente o oposto, posicionando-se na linha de frente no combate contra esse novo vírus mortal e com alta taxa de transmissibilidade a fim de proporcionar os cuidados necessários àqueles que haviam sido contaminados (CUMINALE, 2021). Não obstante, esse sacrifício trouxe consequências severas a sua saúde física e mental, sendo que às extensa carga horária de trabalho, enfraquecimento da rede de apoio, risco de infecção e a falta de EPI suficiente e adequado, acarretou em altas taxas de infecção e morte nessa classe e fragilização da saúde emocional dos profissionais de saúde e, portanto, aumento nos distúrbios de sono, ansiedade e depressão (SILVA; NETO, 2020).
Passado o pico de internações e mortes pelo vírus com o surgimento das vacinas deduzimos que os índices de sofrimento mental entre profissionais da saúde passariam a reduzir, mas as sequelas de quase dois anos de guerra contra a Covid-19 se mostram cada vez mais claramente, sendo esses profissionais afetados por altíssimos níveis de esgotamento físico e mental desencadeando sintomas de estresse pós-traumático, má prestação de serviços, ideação suicida e suicídio (OKECHUKWU; TIBALDI; TORRE, 2020).
A condição mais comumente encontrada em profissionais de saúde pós pandemia é a síndrome de esgotamento (ou burnout), afetando 70% dos mesmos, e caracterizando-se como um reflexo claro da exaustão da classe trabalhadora, apresenta-se através dos sentimentos de exaustão, distanciamento mental, além de questões cognitivas e emocionais relacionadas ao trabalho. Outra doença mental com crescimento preocupante entre trabalhadores da saúde é a ansiedade, manifestada como uma consequência do estresse agudo, a doença afeta 25% dos profissionais e é caracterizada mais frequentemente por preocupações frequentes, tensão e irritabilidade, mas pode acarretar em ataques de pânico, fortes sintomas físicos e medo intenso. Mais uma forma comum de manifestação do estresse são os sintomas depressivos, que atingem 20% dos profissionais da saúde em cenário pós pandêmico, causando tristeza, alterações de apetite e sono, e, de forma mais grave, pensamentos suicidas e o próprio suicídio (CUMINALE, 2021).
Relacionado ao aumento da depressão e ansiedade, o estresse pós traumático também se tornou majoritário entre as condições de saúde mental que tem afetado os profissionais de saúde durante a pandemia, sendo que, 35% (n=71) dos profissionais avaliados preencheram os critérios de Distúrbio de estresse pós traumático (MIGUEL-PUGA, 2020). Em estudo em maior escala realizado na Espanha durante a pandemia de COVID-19 (LUCENO-MORENO, 2020) observou-se que 56,6% (n=805) dos profissionais de saúde avaliados apresentavam doença psiquiátrica de estresse pós traumático relacionado a exaustão física e mental causada pelo trabalho na linha de frente da pandemia.
Ademais, mesmo com todos os danos causados aos profissionais de saúde no enfrentamento do vírus, os mesmos ainda sofrem intensa desvalorização com sobrecarga de trabalho causada agora pela morte em massa e absenteísmo dos profissionais, somada ao risco da perda dos direitos trabalhistas, terceirização e salários reduzidos, além de discriminação social por serem vistos como transportadores do vírus (LEONEL, 2021).
Nesse contexto, os cuidados com a saúde mental do profissional de saúde mostram-se como questão prioritária de saúde pública, sendo necessária a realização de intervenções de caráter mundial na tentativa de controlar e reduzir o estado de exaustão e sofrimento desses profissionais, que já possuíam, antes do cenário epidêmico, taxas aumentadas de doença mental relacionada ao estresse e a exaustão, que foram consideravelmente agravadas durante a pandemia.
Produzido por: Maria Augusta Brandt Paiva, acadêmica do 7° período de Enfermagem da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG), PETiana desde 2019.
Referências:
CUMINALE, N. Guia de Saúde Mental Pós Pandemia no Brasil. Biblioteca Cofen, 2021. Disponível em: http://biblioteca.cofen.gov.br/wp-content/uploads/2020/12/Guia-de-saude-mental-pos-pandemia-no-Brasil.pdf. Acesso em: 11 de setembro de 2021.
LEONEL, F. Pesquisa analisa o impacto da pandemia entre profissionais de saúde. Fundação Oswaldo Cruz: Uma instituição a serviço da vida. Brasil, Março de 2021. Disponível em: https://portal.fiocruz.br/noticia/pesquisa-analisa-o-impacto-da-pandemia-entre-profissionais-de-saude. Acesso em: 11 de setembro de 2021.
LUCENO-MORENO, L.; et al. Symptoms of Posttraumatic Stress, Anxiety, Depression, Levels of Resilience and Burnout in Spanish Health Personnel during the COVID-19 Pandemic. Int. J. Environ. Res. Public Health 2020, 17, 5514. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7432016/pdf/ijerph-17-05514.pdf. Acesso em: 11 de Set. de 2021.
MIGUEL-PUGA, J. A., et al. Burnout, depersonalization, and anxiety contribute to post-traumatic stress in frontline health workers at COVID-19 patient care, a follow-up study.México. Brain and Behavior. 2021;11:e02007. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7883101/pdf/BRB3-11-e02007.pdf. Acesso em: 31 de agosto de 2021.
OKECHUKWU, E. C.; TIBALDI, L.; TORRE, G. L. G. The impact of COVID-19 pandemic on mental health of Nurses. Itália. La Clinica terapeutica, vol. 171, n. 5, p. 399-400, 2020. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32901781/. Acesso em: 31 de agosto de 2021.
SILVA, S. C. T.; NETO, M. L. R. Psychiatric symptomatology associated with depression, anxiety, distress, and insomnia in health professionals working in patients affected by COVID19: A systematic review with meta-analysis. Brasil. Progress in Neuropsychopharmacology & Biological Psychiatry. 104, 110057. Agosto de 2020. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32777327/. Acesso em: 31 de Agosto de 2021.
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